O Huanglongbing (HLB) é considerado a pior doença da citricultura mundial. De acordo com dados do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), em 2012 houve aumento de 82,8% do total de plantas com sintomas da doença em relação a 2011. Atualmente, o HLB atinge 6,9% das árvores paulistas – o maior parque citrícola do Brasil. Com o objetivo de discutir e apresentar as novidades científicas sobre a doença, o Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, da Agência Paulisya de tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, realizou o 6º Dia do Huanglongbing, no Centro de Citricultura IAC, em Cordeirópolis, no dia 14 de março de 2013. Durante o evento, os pesquisadores do IAC apresentaram estudos que mostram a relação entre a eficiência de aquisição da doença pelo inseto vetor, o psilídeo, e a transmissão da doença para plantas sadias. Também foram apresentadas atualizações sobre a doença no mundo e o manejo nutricional. O evento contou com a participação de 200 pessoas.
Pesquisa realizada no IAC em parceria com a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP-ESALQ) comprovou que quanto mais tempo as plantas ficam contaminadas pela doença no pomar, mais fácil é a aquisição da bactéria do HLB pelo inseto vetor conhecido como psilídeo. “Ao se alimentar de uma planta doente, o psilídeo transmite o HBL a uma planta sadia. Portanto, quanto mais tempo o produtor rural demora em eliminar uma árvore contaminada, mais fácil é aquisição da bactéria pelo vetor e muito provavelmente a transmissão”, explica o pesquisador do IAC, Helvécio Della Coletta Filho.
Os sintomas da doença começam a aparecer com pelo menos seis meses de contaminação, porém, os dados experimentais mostraram que aos 100 dias da infecção, a aquisição da bactéria pelo psilídeo já pode ter ocorrido. “Embora o produtor rural não consiga identificar uma planta doente neste curto espaço de tempo, ao identificá-la, esta deve ser eliminada, pois os dados da pesquisa mostraram que quanto mais tempo ela fica no campo, mais eficiente é a aquisição do agente causal do HLB pelo inseto vetor. Essa eficiência de aquisição é variável, podendo ir de 6% a 90%, dependendo das condições de infecção da planta”, afirma o pesquisador do IAC.
Para a realização do estudo, insetos sabidamente sadios foram colocados para se alimentar por um determinado período em plantas doentes. Por meio de testes moleculares baseados na Polymerase Chain Reaction (PCR) foi medida a frequência de insetos contaminados, definindo assim a eficiência da aquisição. “Estes resultados somente vieram a confirmar a necessidade de remoção da planta no campo assim que os sintomas aparecerem, para diminuir os riscos de contaminação das árvores sadias. O produtor deve se alertar ainda para o controle das populações de psilídeo, assim como pelo uso de mudas sadias, caso opte por substituir as plantas erradicadas. Essas informações são úteis para o estabelecimento e validação de estratégias de manejo da doença”, afirma. Para Coletta Filho, a incidência do HLB aumentou nos últimos anos devido à própria eficiência de transmissão do patógeno pelo vetor e pela manutenção de fonte de inóculo no campo.
O psilídeo foi encontrado no Brasil em 1942. Até onde se conhece, a única doença transmitida pelo inseto, tanto na fase adulta quanto de ninfa, é o HLB. “Como a ninfa não se locomove planta a planta, os adultos são mais importantes para a disseminação da doença”, afirma Coletta Filho. O vetor tem um predador natural chamado Tamarixia radiata, porém, com o maciço uso de defensivos agrícolas, ocorre também a eliminação desse parasitóide e, portanto, de acordo com o pesquisador do IAC, não há números para medir sua eficiência como predador do psilídeo, nas condições do Estado de São Paulo.
Pesquisas sobre o HLB no mundo
Quatro pesquisadores do IAC participaram do 3º International Research Conference on HLB, realizado em Orlando, na Flórida. O evento, realizado de 4 a 8 de fevereiro de 2013, contou com a participação de 486 pessoas – entre eles 50 brasileiros – representando 21 países. Os pesquisadores do IAC apresentaram três trabalhos e foram co-autores de outros dois. Os estudos feitos no mundo sobre a doença foram abordados durante o 6º Dia do Huanglongbing, pela pesquisadora do IAC/Embrapa, Juliana Freitas-Astúa.
O grupo de pesquisadores do Instituto apresentou dois trabalhos sobre a resposta diferencial da expressão gênica de citros à bactéria Candidatus Liberibacter asiasticus (Las) e Liberibacter americanus (Lam). “Outros trabalhos também foram apresentados na mesma linha e são importantes não apenas para entender melhor os mecanismos envolvidos na resposta de citros ao HLB, mas principalmente para buscar genes de interesse que possam ser usados na transformação genética de citros visando à resistência à doença”, explica Astúa.
A pesquisadora lembra que desde a descoberta do HLB no Brasil e na Flórida, em 2004 e 2005, vários estudos têm sido conduzidos com o objetivo de verificar variedades de citros que demonstrem resistência ou tolerância à doença e que possam ser usadas como fonte de material genético para o melhoramento. “Embora algumas variedades apresentem diferentes graus de tolerância, é consenso entre os pesquisadores que a resistência nas variedades de citros dificilmente será obtida por meio de melhoramento tradicional em curto prazo. Neste contexto, o uso de ferramentas biotecnológicas, em especial a transgenia, tem se mostrado uma alternativa promissora a médio-longo prazo para o desenvolvimento de variedades comerciais com resistência ou tolerância ao HLB”, afirma Astúa.
Estudos no IAC
Estão em desenvolvimento do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, cinco projetos de pesquisa envolvendo a resposta dos citros ao HLB. O objetivo principal dos trabalhos é avaliar como a laranjeira doce (genótipo suscetível) e Poncitrustrifoliata (genótipo tolerante) se comportam quando infectados com as bactérias Las e Lam – as duas espécies que ocorrem no Brasil. “A finalidade desses projetos é investigar como uma planta tolerante e uma suscetível respondem à infecção pelo patógeno e identificar genes importantes que possam ser transferidos via melhoramento genético e, principalmente, transgenia para variedades comerciais suscetíveis, conferindo-lhes resistência à doença”, explica Astúa.
Dentro dessa perspectiva, a transformação genética do citros é considerada uma estratégia interessante e vem sendo utilizada nos laboratórios do IAC. Dentre os genes candidatos para a transgenia, explica a pesquisadora, estão sendo testados genes de citros que têm o potencial de aumentar a resistência da planta ainda no início da infecção. “Outro projeto em andamento tem focado na seleção de peptídeos antimicrobianos, isolados de citros e outros organismos, que possam interferir diretamente na multiplicação da bactéria nas plantas. Dessa forma, não buscamos apenas o aumento da resistência da planta em relação à bactéria, como também a redução do inóculo da bactéria na planta, na esperança de reduzirmos a doença no campo”, afirma.
Astúa lembra que grupos de pesquisa de todo o mundo têm trabalhado com o objetivo de auxiliar no manejo da doença em curto período de tempo, fazendo com que os produtores consigam evitar ou minimizar a disseminação da doença em seu pomar ou em áreas indenes. “No entanto, pesquisas de longo prazo, potencialmente mais duradouras e sustentáveis, também devem ser conduzidas por institutos de pesquisa e universidade e é esse o foco que o nosso grupo tem buscado”, afirma.
Evento
O 6º Dia do Huanglongbing foi realizado no Centro de Citricultura do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, em 14 de março, em Cordeirópolis, São Paulo. O evento contou com sete palestras ministradas por pesquisadores do IAC, Conplant, Grupo de Consultores em Citros (Gconci) e Fundecitrus. Cerca de 200 pessoas compareceram no evento, entre citricultores, pesquisadores, agrônomos, estudantes e profissionais da área.